A Majestade de Deus (Cristo Como Rei)

Em seu manto, na altura da coxa, estava escrito o nome: Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap 19.16). 

Escrever sobre a majestade de Cristo foi para mim um desafio, e acredito que de todos os textos que escrevi para o Graça em Flor esse foi o mais difícil. Como expressar em palavras um Rei incomparavelmente fiel, verdadeiro, justo, pleno em majestade e glória e, além disso, amoroso, compassivo e humilde? 

Se você tem acompanhado minha escrita por aqui (e espero que ela tenha edificado sua alma) já percebeu que procuro fazer relação com o que podemos conhecer do nosso Deus, através da Sua Palavra, com histórias, sejam elas reais ou fictícias (da cultura pop, por exemplo), e que de certa forma possam nos dar uma concepção mais próxima da realidade e do cotidiano, por meio da cosmovisão cristã, e assim chegar a uma boa compreensão do assunto tratado no texto. 

Pensei em vários personagens de ficção como Aragorn da obra O Senhor dos Anéis, Aslam de As Crônicas de Nárnia, Thorin Oakenshield de O Hobbit ou Paul Atraides de Duna, e que de fato poderiam ajudar nas exemplificações porque guardam muitas semelhanças com Jesus, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, mas… nenhum deles é suficiente para nos dar a dimensão da grandiosidade da realeza de Cristo. Então, escreverei apenas Dele, por Ele e para a Glória Dele! 

Em tempos imemoriais, quando o Deus Triúno não havia trazido a criação à existência, Ele já reinava soberanamente como Rei Eterno, Invisível e Imortal (1Tm 1.17). Ele é Senhor de todas as eras, não importa o quanto voltemos ou avancemos no tempo, Ele é sempre Rei. Substancialmente, Ele é diferente de qualquer ser na criação. Deus não pode ser limitado ou sofrer restrições, pois é espírito, e porque a morte nunca triunfará sobre Ele,  também não sofrerá sucessões ao Trono, pois ninguém pode tomar o seu lugar. 

Já no tempo da criação, “por meio dele, todas as coisas foram criadas, tanto nos céus como na terra, todas as coisas que podemos ver e as que não podemos, como os tronos, reinos, governantes e as autoridades do mundo invisível. Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Cl 1:16) e tudo o que criou foi por amor. Por amar a cada ser existente em sua mente, Ele lhes deu vida para que desfrutassem com Ele e para a glória Dele deste amor poderoso, infinito e incondicional, que é um dos fundamentos de seu Reino. 

Como coroa da Sua criação, Deus criou homem e mulher à sua imagem e semelhança para que refletissem sua glória como verdadeiros embaixadores de Seu Reino. Ele os fez completos e satisfeitos para que se deleitassem Nele para sempre. O Trono do Grande Rei, por amor, estava estabelecido nos corações de Adão e Eva, mas veio a tentação pela antiga serpente e com isso a desobediência, e ambos destronaram o Senhor de seus corações, instaurando a era do pecado, e desde então reis estranhos disputam e governam no lugar onde somente Deus deveria reinar nos seres humanos. 

A escritora cristã Jen Wilkin, em seu livro  Incomparável: 10 maneiras em que Deus é diferente de nós, quanto à soberania de Deus, nos lembra que “a Bíblia narra a história de um rei cuja reivindicação ao trono é reconhecida desde o começo, mas cujas majestade e autoridade são apenas apreendidas por completo nas páginas finais quando o vemos, enfim, coroado e reinando“. Portanto, logo após a Queda é anunciado que da semente da mulher nasceria um homem para pôr fim ao reino das trevas, mas por muito tempo esse era o grande mistério da redenção da humanidade: como um Rei Eterno, Invisível e Imortal poderia nascer de uma mulher e reivindicar seu trono em um mundo caído? 

Ao longo de todo o relato bíblico vemos Deus trabalhando em seu plano de reivindicação e redenção. Melquisedeque (Gn 14.18) nos é apresentado como o Rei de Salém, que não tinha ascendentes, também não se sabia nada sobre seu nascimento ou morte, seu nome significava “rei de justiça” (Hb 7.1-3), ele era como uma prefiguração do Rei Eterno que ainda viria. Em sua soberania, Deus foi encaminhando a história, escolhendo homens e mulheres para que uma linhagem se tornasse seu povo, embora não pudesse estar entre eles como os demais reis do mundo, sua presença onipotente os acompanhava com grandes sinais. 

O Senhor chama esse povo que escolheu para si de Israel e com ele estabelece uma teocracia: Ele era o Rei que governava, guiava, liderava, ensinava e protegia os israelitas. Israel seguiu sem um rei humano até o profeta Samuel, depois fizeram como as nações pagãs e pediram ao Senhor um rei como eles (1Sm 8). Embora houveram reis que foram bons e leais ao Senhor, a maioria compreendeu reis terríveis que sucederam dessa escolha. Entre aqueles bons, o rei Davi é o grande destaque, prefigurando o Grande Rei ainda por vir em sua lealdade e humildade. Sobre o rei Davi foi dito pelo próprio Senhor: “Davi, filho de Jessé, é um homem segundo o meu coração; fará tudo que for da minha vontade” (At 13:22). 

Prefigurações são indícios que representam uma realidade que se concretizará, o Rei prometido seria como Melquisedeque e Davi, mas infinitamente superior a eles. Deus anuncia por meio dos profetas que este Rei incomparável viria com grande poder e glória, faria com que cegos, surdos e mudos fossem curados, quebraria os aguilhões da tirania, e estabeleceria a paz, mas é na profecia feita por Zacarias que temos uma característica que não é comum aos reis que conhecemos: “Alegre-se, ó povo de Sião! Exulte, ó preciosa Jerusalém! Vejam, seu rei está chegando; ele é justo e vitorioso, mas também é humilde e vem montado num jumento, num jumentinho, cria de jumenta” (Zc 9.9). 

Embora os reis da história da humanidade buscassem em Deus o fundamento de seu direito de reinar, nenhum deles gostaria de reinar sob os padrões do Reino de Deus que é baseado em valores eternos que não obedecem a lógica de um mundo caído em pecados. No tempo certo, determinado por Deus, Ele enviou seu Filho Unigênito, nosso Rei, para nascer entre nós, como um de nós. Jesus Cristo é o Seu Nome, nosso Emanuel, Deus conosco. Esse era o misterioso plano de Deus para a reivindicação do seu Reino por meio do Deus-Filho. 

O Grande Rei apresentou seu Reino, segundo Donald B. Kraybill, quebrando os valores e os pressupostos da humanidade, apresentando uma perspectiva de ponta-cabeça que estabelece as principais diferenças entre o Reino dos Céus e os reinos deste mundo. Ele nos surpreende em cada uma de suas parábolas e sermões pelos Evangelhos e nos mostra que, segundo os parâmetros de Seu Reino, os bonzinhos acabam sendo os vilões; os que se julgam caminhando para o céu, na verdade, estão longe dele; os menores são os maiores; os imorais recebem perdão e bênção, por fim, ficamos confusos, perplexos e admirados pois vez após vez vemos Jesus virando nossas expectativas de cabeça para baixo. 

O que os israelitas não entenderam é que a verdadeira reivindicação do Trono e estabelecimento do Reino Eterno compreenderia, com todo poder e glória, libertar o povo do Grande Rei de toda cegueira e surdez que o pecado instaurou nos fazendo inimigos de Deus. Cristo traz a paz em nossa reconciliação com Deus, pois o pecado é o aguilhão que nos levaria à morte eterna, mas uma vez livres não seremos mais mudos, nós o louvaremos com todo nosso coração. O preço da nossa liberdade era a morte do Rei, mas sua morte foi apenas o começo do estabelecimento do seu Reino que, embora entre nós, ainda não se concretizou totalmente. 

Aquele que é Eterno, Invisível e Imortal se esvaziou de sua majestade, se fez servo e anunciou a chegada de Seu Reino àqueles que não eram seu povo. Ele veio a nós como um Cordeiro, manso e humilde, um Rei que nos presenteou com sua própria vida para nos resgatar do império das trevas. Ele é o Homem mais forte que amarrou e imobilizou o valente que nos mantinha debaixo da escravidão do pecado.

Ele é o Rei que veio para servir e morrer por aqueles que o Pai lhe deu desde antes da fundação do mundo por amor incondicional, logo, com quem poderíamos compará-Lo? Muitos podem trazer semelhanças e elementos de seu magnífico exemplo, mas Ele é Rei dos reis e Senhor dos senhores porque é único e sua soberania é plena e eterna. Nas palavras de Abraham Kuyper: “Não há um centímetro quadrado deste mundo do qual Cristo não possa dizer: é meu”. 

O Rei nasceu, viveu como um de nós, morreu, ressuscitou e ascendeu aos Céus. Por ter nos libertado do reino das trevas a Ele foi dada toda a autoridade no céu e na terra (Mt 28.18), a era do Evangelho da Graça se instaurou e por meio de seu sacrifício(Jo 12.32), Ele convoca seu povo dos quatro cantos do mundo para que sejam propagadores do seu Reino e vivam como forasteiros até que Ele volte. E quando Ele retornar, quer nos achar vivendo como cidadãos de seu Reino aqui, pois a queda do mal que começou em nós será completa. E então não mais como um Cordeiro, mas como um Leão, do seu Trono à direita de Deus-Pai, Ele anunciará à Criação: “Eis que faço novas todas as coisas!” (Ap 21.5).

Quando penso sobre o triunfo do Rei Jesus meu coração se acende em esperança, consolo-me de todo sofrimento que este mundo proporciona, alegro-me na notícia de que a morte não é o fim e que a liberdade que Ele nos deu não é arruinada por qualquer sistema legalista que já foi ou possa ser inventado, muito menos é maculada por qualquer filosofia ou ideologia que desvaloriza a grandiosidade de seu sacrifício por nós para que pudéssemos viver uma nova vida aqui, pois seu amor por nós supera e transforma todas as coisas. Porém, até que Ele venha, sigamos, queridos irmãos e irmãs, como em nosso lema aqui no Graça em Flor, pelo Rei e pelo Reino!


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