A Bíblia: Por que podemos confiar que ela é verdadeira?

“(…) estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência (…)” – I Pedro 3:15

Se o autor de um livro escrevesse, logo na primeira frase do primeiro parágrafo: “tudo que está aqui é verdade”. Você acreditaria facilmente? Desacreditaria totalmente? Ou, ao menos, desconfiaria que é só o ponto de vista do autor, ou sua percepção de mundo? É claro que, em se tratando do Deus trino, perfeito e imutável, essa afirmação é verídica e digna de toda a nossa confiança. Mas, o que é isso, senão o retrato da fé, que é agradável a Deus? (Hebreus 11:6)

Entretanto, o fato de crermos que a Bíblia é a Palavra de Deus não explica todas as questões que envolvem sua veracidade. Se assim fosse, teríamos de validar todos os outros livros tidos como sagrados por seus respectivos fieis. Como explicamos, então, se o texto atual é confiável, se a Bíblia narra fatos ou histórias inventadas e por que escolhemos crer no cristianismo, e não em outra religião? Como aprendi com Ricardo Motta, advogado e meu professor da escola dominical (que muito me auxiliou na construção desse material), “a única maneira de estar razoavelmente certo é testar as crenças por meio das evidências. Isso é feito por meio da utilização de alguns princípios filosóficos sérios, incluindo aqueles encontrados na lógica e na ciência.”

Antes de adentrarmos nas evidências, creio ser conveniente explicar a importância da defesa da doutrina da inerrância bíblica. Michael Kruger, em seu artigo “A doutrina da Inerrância da Bíblia é essencial” diz que a inerrância oferece o fundamento do porquê podemos confiar e obedecer a Palavra de Deus: “ela é uma rocha segura em que os cristãos podem construir suas casas em meio a um mundo hostil (Mateus 7.25).”

Pensando na hipótese de a Bíblia conter afirmações falsas;  logo, suas informações não poderiam ser a voz de nosso Senhor, certo? E se a Bíblia fosse uma mistura de verdade e engano, como identificaríamos um e outro? O único recurso seria confiar no que cada um crê sobre cada assunto, abrindo precedente para que a Palavra fosse lida, compreendida e editada a qualquer padrão (tal como ocorre com outros livros comuns). Porém, posicionarmo-nos como confiantes na inerrância bíblica não é uma postura muito popular. 

Naquele contexto do versículo inicial, em que o apóstolo Pedro recomenda aos cristãos que estejam preparados para responderem sobre a razão de sua esperança, o assunto é a perseguição pela justiça, por fazer o bem, por serem seguidores de Cristo. O alerta se aplica totalmente ao nosso contexto, pois reflete como nosso posicionamento sobre a confiabilidade da Palavra deve ser: firme, embasado e racionalmente amável.

Evidências históricas confiáveis

“Nessa época [a época de Pilatos], havia um homem sábio chamado Jesus. Sua conduta era boa e era conhecido por ser virtuoso. Muitos judeus e de outras nações tornaram-se seus discípulos. Pilatos condenou-o à crucificação e à morte. Mas aqueles que se tornaram seus discípulos não abandonaram seu discipulado, antes relataram que Jesus havia reaparecido três dias depois de sua crucificação e que estava vivo; por causa disso, ele talvez fosse o Messias, sobre quem os profetas contaram maravilhas”. Esse relato é de Flávio Josefo (37 – 100 d.C), o maior historiador não cristão e judeu de sua época, em seu livro “Antiguidade dos judeus”. 

Essa não foi a única menção feita a Jesus Cristo por Josefo e, além dele existem dez outros escritores não-cristãos conhecidos que mencionam Jesus num período de até 150 anos depois de sua morte. Por outro lado, nesses mesmos 150 anos, existem nove fontes não-cristãs que mencionam Tibério Cesar, o imperador romano dos tempos de Jesus. 

Algumas dessas fontes não-cristãs – como Celso, Tácito e o Talmude judaico – poderiam ser consideradas anticristãs. Porém, elas confirmam e admitem fatos registrados no Novo Testamento, como:

1. Jesus viveu durante o tempo de Tibério Cesar; 

2. Ele viveu uma vida virtuosa;

3. Realizou maravilhas;

4. Teve um irmão chamado Tiago;

5. Foi aclamado como Messias;

6. Foi crucificado a mando de Pôncio Pilatos;

7. Foi crucificado na véspera da Páscoa Judaica;

8. Trevas e um terremoto aconteceram quando ele morreu;

9. Seus discípulos acreditavam que ele ressuscitara dos mortos;

10. Seus discípulos estavam dispostos a morrer por sua crença;

11. O cristianismo espalhou-se rapidamente, chegando até Roma;

12. Seus discípulos negavam os deuses romanos e adoravam Jesus como Deus.

Testes históricos dos manuscritos

Em se tratando do Novo Testamento, temos 27 textos escritos em rolos diferentes, por nove autores, durante um período de 20 a 50 anos, em locais diferentes e para destinatários distintos.

Alguns críticos afirmam que os fatos podem ter sido distorcidos com o passar dos anos. Para resolvermos esta questão, é necessário comparar os manuscritos que sobreviveram ao tempo. Estudiosos concordam entre si que uma maior quantidade de manuscritos, juntamente com a reunião de manuscritos mais antigos, normalmente nos dão um testemunho mais confiável e geram condições para uma reconstrução mais precisa.

Uma contagem recente apontou que existem cerca de 5.700 manuscritos do NT, em grego, e mais de 9.000 em outras línguas, como latim, árabe, siríaco, copta, etc. Dentre as obras do mundo antigo, a que mais se aproxima é a “Ilíada”, de Homero, com seus 643 manuscritos. Uma diferença notável, não? Porém, ninguém contesta a idoneidade do texto de Homero.

Mas, e os erros? Não iremos fechar os olhos para a estimativa de, aproximadamente, 200 mil erros nos manuscritos. Porém, devemos levar em consideração que, devido ao alto número de manuscritos e a distância temporal entre si, estamos lidando com leituras variantes na gramática. Philip Schaff, historiador da igreja cristã, calculou que das 150 mil variantes conhecidas em seus dias, somente 400 mudaram o significado da passagem, apenas 50 foram de real importância, e nem mesmo uma sequer afetou “um artigo de fé ou um preceito de obrigação que não seja abundantemente apoiado por outras passagens indubitáveis ou pelo sentido geral do ensinamento das Escrituras.”

Bruce Metzger, um estudioso do NT e professor na Universidade de Princeton, estimou que o Mahabharata, do hinduísmo, foi copiado com apenas 90% de precisão e que a Ilíada, de Homero, com cerca de 95%. Por comparação, ele estimou que o NT é cerca de 99,5% preciso. Havemos de concordar que esta porcentagem de 0,5% em questão não afeta uma única doutrina da fé cristã.

Evidências na Arqueologia

O Pr. Heber Campos, em seu livro “Eu Sou: Doutrina da Revelação Verbal”, apresenta vários argumentos que provam a confiabilidade da Bíblia nos assuntos de história, como a arqueologia, que tem sido um grande suporte para comprovar a veracidade dos dados bíblicos e para reafirmar sua credibilidade. “Nenhuma escavação arqueológica desacreditou os eventos e as personagens mostrados na Escritura. Um arqueólogo judeu citado por [Norman] Geisler disse: ‘Pode-se afirmar, categoricamente, que nenhuma descoberta arqueológica jamais controverteu a referência bíblica’, o que comprova a veracidade das informações contidas na Escritura. No entanto, nem todas as informações históricas da Escritura podem ser averiguadas, como, por exemplo, a narrativa do Éden e a ressurreição de Jesus, que são uma questão de pura fé na Palavra de Deus, mas há muitas confirmadas como absolutamente verídicas, historicamente comprovadas.”

Integridade nas palavras de Cristo

Considerando que Cristo realmente existiu, podemos partir para mais uma conclusão: sua integridade aponta que falou de pessoas que realmente existiram e confirmou a veracidade de eventos em que essas pessoas estavam envolvidas, como Adão (Mt 19.4), Abel (Lc 11.51), Noé (Lc 17.26), Ló (Lc 17.28) e o próprio Jonas (Mt 12.40).

Sobre este aspecto, o Pr. Heber Campos afirma que podemos dizer que o testemunho do Senhor é válido porque, como Deus, ele é o autor último das Santas Escrituras. “Ele é o Anjo de Deus de quem os profetas ouviram. Se ele creu nas Escrituras como fonte confiável de autoridade, por que haveríamos nós, os cristãos, de duvidar?”

A própria Bíblia se confirma

Ao estudarmos sobre as evidências de que o Universo foi criado, meu professor afirmou o seguinte: “somente um ser inteligente que não é matéria (João 23-24), não é atemporal (Deuteronômio 33:27) e não é espacial (Salmo 139:7-10) poderia criar o Universo. Porque se ele fosse alguma dessas coisas, ele teria que ter sido criado.”

A Palavra afirma que Deus é Eterno, é Espírito e é transcendente ao espaço, podendo estar em todo o lugar ao mesmo tempo. Essa evidência se mostra no primeiro versículo da Bíblia: 

“No princípio [tempo], Deus criou os céus [espaço] e a terra [matéria]”. Se estas evidências se mostram verdadeiras, então podemos crer que estamos diante de um livro no qual pode ser colocado fé. Consequentemente, “é possível também que milagres (fatos que desrespeitam a causalidade natural das coisas como conhecemos) também sejam possíveis – essa é uma das maiores objeções de ateístas e críticos à Bíblia”, conclui Ricardo Motta.

A credibilidade dos relatos

A maioria dos livros do Novo Testamento foi escrita entre 30 e 60 d.C – isto é, em data muito próxima aos fatos. Alguns textos fazem referências a testemunhas oculares, muitas delas ainda vivas à época dos fatos e com mais de quatro linhas de depoimentos escritos. 

Meu professor Ricardo Motta pode auxiliar-nos nesse tema jurídico ao explicar que uma testemunha se torna crível quando ela apresenta fatos do contexto histórico que demonstram que está falando a verdade. “No caso de uma testemunha histórica, esperamos que ela apresente detalhes da sociedade, da geografia, dos costumes e vida secular que demonstrem essa veracidade. Colin Hemer, estudioso clássico e historiador, faz uma crônica versículo por versículo da precisão de Lucas no livro de Atos. Hemer identifica 84 fatos nos últimos 16 capítulos de Atos que foram confirmados por pesquisa histórica e arqueológica. Lucas não tinha acesso aos mapas ou às cartas náuticas modernas. Existe alguma dúvida de que ele tenha sido testemunha ocular desses acontecimentos ou que pelo menos tenha tido acesso ao depoimento confiável de testemunhas oculares?”

O especialista clássico e arqueólogo William M. Ramsay diz: “Comecei tendo um pensamento desfavorável a ele [livro de Atos] […]. Eu não tinha o propósito de investigar o assunto em detalhes. Contudo, mais recentemente, vi-me muitas vezes sendo levado a ter contato com o livro de Atos vendo-o como uma autoridade em topografia, antiguidade e sociedade da Ásia Menor. Fui gradualmente percebendo que, em vários detalhes, a narrativa mostrava verdade maravilhosas”.

​​Para além de todos estes tópicos apresentados sobre a confiabilidade das Escrituras, vale mencionar também que o conteúdo não esconde fatos constrangedores e que, se fossem invenções, não deveriam ter sido incluídos para não diminuir a credibilidade, como por exemplo: 

  • Os autores do NT incluíram detalhes embaraçosos sobre si mesmos, quando Pedro é chamado de Satanás (Marcos 8:33), quando os discípulos são retratados como covardes na prisão de Cristo, e a própria negação de Pedro após a promessa de fidelidade (Mateus 26: 33-35);
  • As mulheres são relatadas como as primeiras testemunhas do túmulo vazio e as primeiras portadoras da notícia da ressurreição. Para a cultura daquela época, o testemunho feminino não tinha peso em tribunal. Certamente, se fosse uma história inventada, os autores teriam modificado o relato para testemunhos masculinos;
  • Os autores incluíram situações embaraçosas sobre Jesus, como ter sido desacreditado pela própria família (João 7:5), ser visto como enganador (João 7:12), chamado de beberrão (Mateus 11:19) e de endemoninhado (Marcos 3:22);
  • A descrição de milagres é feita no mesmo formato de fatos históricos: relatos simples e sem retoque, o que soaria contraditório para um suposto material fictício que deveria acrescentar detalhes fantásticos e impressionantes.

Sim, cremos na inerrância da Bíblia. Cremos que ela é confiável não somente como relato histórico inspirador, mas principalmente por seu conteúdo divinamente inspirado, vivo, eficaz e infalível. Cremos porque, pelo Espírito Santo, somos conduzidos a isso. Mas, cremos de forma racional, com seriedade e não emocionalismo. Cremos não porque alguém nos disse para crer, mas porque ela é digna de nossa confiança e se prova como tal, pelos motivos aqui detalhados. Que este precioso alimento nutra nossa alma e espírito, ilumine nossa mente e transforme nossa vida a cada dia.

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Fontes:


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