Um universo em minha mente (Sobre fantasias que criamos)

Quando eu era solteira eu tinha um hábito tão bobo, mas tão bobo que eu nunca contava para ninguém. Era essa coisa de me imaginar em um universo paralelo. Ele não era completamente diferente, como em ficção científica. Era basicamente o mesmo em que eu vivia, com a exceção de que nele tudo acontecia exatamente como eu queria. Eu era perfeita – física e espiritualmente; e tinha um namorado tão perfeito quanto. Às vezes ele era aleatório, alguém que eu criava, e às vezes era algum famoso, ou até mesmo alguém da minha vida real que nunca seria meu na vida real.

Eu me achava uma menininha estúpida por criar esses cenários, e por isso os guardava a sete chaves. Mas quanto mais eu os guardava mais eles cresciam e ocupavam meus pensamentos em grande parte do dia. E eles cresciam não só em frequência mas também em intensidade. No começo era um rápido “ele seria um bom namorado” mas depois virava um enredo digno de filmes que ia se construindo em cima de pensamentos passados, ficando cada vez maior e mais importante para mim.

Dessa forma eu fugia da minha realidade e me encontrava feliz no universo na minha mente.

Quando eu comecei a namorar meu marido isso mudou e passou a ser mais focado nele, no futuro com ele. Não foi até mais de um ano dentro do casamento que eu me encontrei surpresa em perceber que, vez ou outra, minha mente começava a correr para esse universo de novo.

Assustada, resolvi superar meu ego e finalmente contar a uma amiga sobre isso.

Quando ela olhou para o chão depois da minha confissão, eu pensei “não acredito!”. Baixinho e meio acanhada ela confessou, “eu também, amiga. Eu também”.

Naquele momento minha ficha caiu: e se isso não fosse algo “da Francine”, mas algo que na verdade é comum a muitas mulheres? E se esse é realmente o caso, então é preciso que comecemos a falar sobre, porque eu nunca li nada sobre isso em lugar nenhum em todos os meus anos de ler conteúdo voltado ao universo feminino.

A raiz do problema

Desde a conversa com minha amiga eu me obriguei a ponderar sobre isso, e entender de onde vem esse desejo de ter um universo paralelo. Duas coisas surgiram em minha mente: lascívia e descontentamento.

Em primeiro lugar eu creio, sim, que existe uma parte disso que está conectada à lascívia. Nem sempre o é, e nem todas nós têm pensamentos necessariamente impuros ou claramente sexuais. Mas a mulher é geralmente menos visual e mais do ouvir, do sentir. Logo, só porque não estamos imaginando cenas impróprias (algumas de nós talvez façam isso também) isso não significa que não estamos desejando de forma imprópria. Criamos o homem perfeito em nossas mentes e ele satisfaz nossos desejos de ouvir e sentir o que queremos.

E porque não é explicitamente sexual, nós encontramos mais facilidade em justificar como uma “tendência boba” ao invés de chamar de pecado, que é o nome real. Jesus disse que o adultério acontece não só no ato consumado de forma física, mas também no ato consumado na mente (cf. Mt. 5:27,28). E não é exatamente isso que fazemos nessas realidades inventadas?

E isso se conecta à segunda raiz, o descontentamento. Eu percebi em meu coração que era menos sobre uma lascívia, um desejo real de querer outra pessoa, e mais sobre um descontentamento. No meu caso especificamente eu não estava descontente com meu marido que, pela graça, é maravilhoso (ainda que imperfeito). Era um descontentamento comigo mesma, com meu pecado e falhas, que me fazia querer sumir, fugir da minha realidade. E nisso eu voltava ao hábito da minha adolescência.

Um escape da realidade

É justamente esse querer “escapar da realidade” que nos leva à criação desse universo na mente. Talvez nossos maridos não sejam o que queríamos, ou nosso trabalho nos deixa exausta, ou qualquer outra parte da nossa realidade parece pesada demais para carregarmos, e encontramos uma válvula de escape.

Talvez você pense, “pelo menos não estou correndo ao álcool ou coisas assim”, mas na raiz qual a diferença? Você está buscando formas de ignorar e não aceitar a vida que Deus te deu ao fugir para “outra realidade” da mesma forma que alcoólatras o fazem, ou pessoas viciadas em pornografia.

A raiz é a mesma, os motivos são os mesmos, apenas a forma como se dá que é diferenciada. Mas a forma não justifica tratar como “menos”, porque como já vimos Jesus disse que adultério na mente é tão pecado quanto na vida “real”.

Não há desculpas. É pecado.

O que ajuda a superar?

Bom, uma vez que conseguimos enxergar que não somos as únicas fazendo isso, e quando percebemos que de fato é pecado, como lutar contra isso?

Em primeiro lugar, mais do que regras precisamos lembrar do Evangelho. Quando o Filho de Deus morreu por você Ele te fez filha de Deus. Herdeira do Reino. Quer realidade mais preciosa, mais poderosa? Precisamos lutar contra essa vontade de fugir de nossas realidades ao lembrar-nos da verdadeira realidade de quem somos e da esperança que temos no porvir.

É preciso também encontrar nosso contentamento em Jesus de maneira que Ele nos traga tanta alegria, tanto gozo, que não sentiremos necessidade de nada além dEle. Tudo além dEle é benção extra. Marido, casa própria, emprego maravilhoso, filhos, corpo saudável e lindo, tudo isso é névoa tão passageira, de alegria tão pobre, quando comparado a Jesus.

Marido, casa própria, emprego maravilhoso, filhos, corpo saudável e lindo, tudo isso é névoa tão passageira, de alegria tão pobre, quando comparado a Jesus. Click To Tweet

Mas para além dessas verdades profundas, creio que cada pessoa terá especificidades em como lidar na forma prática, e isso porque cada uma de nós terá coisas diferentes que “começam” o problema. Para mim, duas coisas que me fazem ir para universos paralelos na mente são músicas pop e romances (sejam filmes ou livros). Então eu tenho parado de consumir ambos, e sinceramente? Acabei percebendo não só um “detox” da alma, mas também uma liberdade de focar meu tempo livre em conteúdos mais edificantes.

Se você perceber algo que te “ajuda” a começar esses pensamentos, seja um livro no qual você “vive” quando lê, seja uma música que te lembra alguém, seja o que for, afaste isso de sua vida. Jesus é melhor que tudo, nada é importante demais para ser sacrificado por amor a Ele.

Queridas, eu espero que esse artigo comece uma conversa. Esse é um pecado que eu creio ser generalizado à maioria das mulheres, e precisamos falar sobre, confessar umas às outras, trazer à luz, com um desejo sincero e profundo de fazê-lo morrer. Só frutificamos quando matamos as ervas daninhas.

Que o Senhor nos ajude.