Teimosia em pecar

1 Reis 12:8:

“Porém ele deixou o conselho que os anciãos lhe tinham dado, e teve conselho com os jovens que haviam crescido com ele, que estavam diante dele.”

No capítulo 12 de 1 Reis vemos a história do rei Roboão, um jovem que, por pura rebeldia, não segue o conselho dos anciãos que aconselhavam seu pai, escolhendo deixar de lado a sabedoria e a verdade da experiência, para provar a estultícia dos conselhos dos seus amigos mais jovens. Quantas vezes nós já fomos como esse rei em nossas vidas, deixando a sabedoria de lado para nos aventurar no que achamos estar correto, seguindo a nossa própria vontade em vez de nos atentar para o que seria a maneira correta de agir?

Lembro-me de uma vez em que o pastor de nossa igreja contou sobre como seu filho esperou anos pela moça que viria mais tarde a ser a mãe dos seus filhos, enquanto ele morava sozinho, sentindo muitas saudades, mas sem nunca desanimar. O filho do pastor seguiu o conselho do pai e esperou pacientemente que a amada se formasse e mudasse de cidade para só então, depois de esperar e fazer tudo como seu pai lhe pedira, noivar e casar com a moça. Na época ouvindo a história me lembro de ainda debochar do rapaz. Em nenhuma circunstância alguém esperaria para viver junto com o amor da sua vida só porque lhe foi pedido. Eu era tão jovem a ponto de pensar que o amor não pode esperar. E se ela desistisse? E se ele não aguentasse esperar? Mas a verdade é que o amor tudo espera, tudo suporta;  a paixão é que é desesperada. Obedecer o conselho de seu pai foi o melhor que aquele jovem poderia ter feito. Ele não se deixou ser enganado pelo próprio coração e cair na tentação da desobediência. Ele realmente pôde alimentar seu amor por sua amada enquanto esperava e obedecia. Se o filho do pastor tivesse desobedecido o pai de imediato, esse relacionamento talvez não teria amadurecido o suficiente para percorrer todas as fases antes do casamento. O final dessa história poderia ter sido de sofrimento e decepção.

As maiores tragédias que encontramos na Bíblia são resultados de desobediência. As consequências do pecado não demoram a aparecer. Quando enganamos alguém (ou até a nós mesmos) não há como escapar da culpa que chega tão rápido quanto uma bala de revólver. Viver com esse sentimento de culpa é o mesmo que estar trancado dentro de um quarto e não conseguir sair. Você irá tentar abrir portas, janelas, quebrar paredes, mas enquanto não encontrar a chave para destrancar o cadeado que prende a porta, você não sairá. O problema é que esse cadeado está escondido embaixo do seu orgulho, bem escondido, lá no fundo, do lado do sentimento da culpa. E a chave você só encontrará quando parar de achar que é o dono da sua própria vida.

Os erros que cometemos na maior parte das vezes têm essa razão de achar que devemos seguir nosso coração. Até percebermos o propósito real de Deus em nossas vidas, tenderemos a achar que o controle dela é nosso. E é aí que costumam aparecer os erros.

Os erros que cometemos na maior parte das vezes têm essa razão de achar que devemos seguir nosso coração. Até percebermos o propósito real de Deus em nossas vidas, tenderemos a achar que o controle dela é nosso. Click To Tweet

Na minha mocidade ouvi um conselho de uma amiga que, como os amigos da história de Roboão, era jovem. Mas a diferença é que o conselho da minha amiga foi sábio. Só que por achar que eu tinha o controle da minha vida, que ninguém sabia melhor de mim mesma do que eu, não dei ouvidos a ela. O resultado estava já escrito em Eclesiastes 12:1 “Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos em que dirás: Não tenho prazer neles” (grifo meu). Chegaram os anos e o que restou foi arrependimento. Não fiz o que me foi corretamente aconselhado e agora o resultado é não ter contentamento olhando para aqueles dias da minha juventude.

As pessoas da nossa família são as que sempre estão mais próximas de nós e por isso as que mais sofrem com nossa rebeldia e teimosia. A maioria das brigas entre pessoas casadas é pela falta de flexibilidade de uma das partes em assumir que está arrependido ou errado. As brigas começam, na maioria das vezes, por um achar que está mais certo do que o outro. Um casal que vive em “pé de guerra” só traz desarmonia para o lar, provocando naturalmente um esgotamento na relação. Não há como apagar a palavra agressiva dita ao seu companheiro. Não há como retirar a agressão verbal feita ao seu filho. O que está feito, está feito. E de novo temos o pior dos sentimentos: a falta de contentamento ou a culpa.

A vergonha é amiga íntima da culpa e filha do pecado. Esse sentimento nos torna tão fracos diante de Deus que nos impede até de orar e pedir perdão pelas nossas falhas.

Nunca esquecerei quando um ex-namorado de minha mãe mudou-se para frente da nossa casa e eu perguntei  para ela “Mãe, você não tem vergonha de morar perto de um ex?” E ela sabiamente me respondeu: “Não tenho. Eu teria vergonha se tivesse feito algo que eu pudesse me arrepender depois”. É exatamente aqui onde eu queria chegar: as consequências do pecado só aparecerão se você pecar, cair. Pela graça de Deus você tem o Espírito, e a capacidade através dEle de escolher não pecar. Deus sempre mostrará qual é o caminho errado e qual é o certo. E quando escolhemos o caminho errado pecamos somente contra Deus. Não adianta tentar justificar o erro dizendo que todos fazem isso também.

E não adianta esconder! Eva, a primeira humana a pecar, junto com Adão, tentou se esconder de Deus no jardim do Éden. Mas Deus os conhecendo profundamente, os achou e o sentimento que sobrou a eles foi o de medo. Adão tentou transferir a culpa para sua mulher, e Ah, minhas irmãs, quantas vezes tentamos transferir a culpa dos nossos erros e da nossa rebeldia? Quem cresceu com irmãos sabe com certeza como essa dinâmica funciona. O medo de ser repreendido nos faz tentar escapar da responsabilidade de ter cometido um erro pela simples transferência de culpa. Não se deixe enganar por isso. A verdade sempre aparecerá. Lembre-se que o Cordeiro de Deus já recebeu nossa culpa, leve seus pecados até Ele e encontre perdão ali. Pare de transferir a culpa a pessoas tão falhas quanto você, que jamais conseguirão pagar o preço do pecado.

Não há pecado que não possa ser revelado, e é certo que alguém sairá machucado. As pessoas que persistem no erro acabam perdendo a confiança dos que estão próximos a elas. O resultado dessa rebeldia em persistir no erro é sempre a tristeza e a amargura.

Mas se pela graça você um dia se arrependeu e nasceu de novo, essa rebeldia, essa teimosia que insiste em te fazer cair, te incomodará. Você não terá mais um momento só de paz, o Espírito te mostrará o erro. E então você deve encontrar a chave do cadeado. Para encontrar essa chave, faça como o rei Davi – confesse e arrependa-se (cf. Salmos 51). Porque não há sacrifício maior para Deus que um coração quebrantado. Pegue a chave da confissão e do arrependimento, abra o cadeado da teimosia, e encontre perdão.

“[Você continua pecando, presumindo] as riquezas da bondade, paciência e tolerância de Deus, não sabendo que a bondade dEle deveria levar-te ao arrependimento?” (Cf. Romanos 2:4, da tradução ESV)