Raízes em nós

Eu ainda me lembro das noites de choro. Eu rolava de um lado pro outro, soluçando enquanto meu peito ardia em dor, tentando encontrar sentido naquelas palavras. Da primeira vez elas foram, “Nós somos como a Bela e a Fera… Eu sei que só machucaria você”. Da segunda, “Desculpa, mas você é emocional demais pra mim”. E da terceira, “Eu sinto que não há espaço na minha vida agora pra nós”.

Essas palavras duras e frias me mantinham acordada à noite, pensando em tudo que havia de errado comigo. Pro primeiro rapaz eu era inocente e pura demais. Pro segundo, emotiva demais. E pro terceiro, bom, eu mal conseguia imaginar o quanto deveria haver de errado comigo pra que ele não conseguisse nem ao menos achar espaço em sua vida pra mim.

O pior dessas rejeições é que elas sempre, sempre, aconteciam depois de muito tempo de cultivo. O primeiro rapaz me teve em suas teias por mais de um ano. O segundo por pelo menos seis meses. O terceiro por mais de um ano. Não é como se eu tivesse acabado de conhecê-los, como se eu tivesse inventado tudo aquilo sozinha na minha cabeça. Eles estavam lá! Eles disseram palavras de incentivo e encorajamento que me diziam com todas as letras, “EU ESTOU INTERESSADO TAMBÉM”. E aí, de repente, tudo muda pra eles. Mas, em mim o cultivo já tinha ocorrido por tempo demais. As sementinhas que eu plantei foram carinhosamente regadas. Eu deixei-as no Sol pelo tempo necessário, e as coloquei na sombra pra não queimarem. Eu podei na época certa, e vi seus ramos frutificarem.

E quando nosso amor, que eu pensei ser recíproco, foi morto do lado deles, eu ainda tinha uma grande árvore de sentimento dentro de mim.

E agora? Faço o que com isso?, eu pensava noite afora. No começo eu só admirava minha árvore. As lágrimas corriam quentes pelo meu rosto enquanto eu lembrava daquilo que foi, e de tudo o que eu pensei que poderia ser. Mas, com o tempo, a árvore começou a morrer, secar; afinal de contas ela não podia viver se as raízes estavam em um corpo só.

E chegou a hora de arrancar.

Eu sabia que arrancar as raízes daqueles rapazes em mim sairia rasgando tudo por dentro, e eu não queria ter que passar por tão grande dor.

Eu conseguia ouvir Deus dizer, arranca. Confia em mim, arranca.

Então firmei meus pés na Rocha Eterna, tomei coragem, e puxei. Com a ajuda dEle, arranquei aqueles rapazes de dentro de mim. Arranquei toda a toxidade que eles criavam. Arranquei a rejeição, os “nãos”, os joguinhos. Finalmente estava livre.

Mas a dor que veio em seguida foi profunda. Eu sangrei por um tempo. As raízes que eles criaram em mim, quando arrancadas, deixaram um buraco muito grande.

E foi então que eu vi o milagre acontecer.

Quando eu me submeti à vontade que meu Deus tinha pra mim, vontade essa que dizia que eu não deveria me envolver com rapazes que não O amavam, então eu vi algo novo brotar. No buraco que eles deixaram o Senhor começou a florescer uma nova planta, muito mais forte que a anterior. Uma semente de amor por Ele, de amor pelas vidas ao meu redor, de amor pelo Reino.

Ele começou a crescer em mim uma vontade enorme de servi-lO sem nada me segurando. De me render completa e integralmente a Ele.

E algo novo preencheu o buraco que as raízes deixaram. Jesus preencheu cada buraco, fechou cada ferida. Ele veio como bálsamo que é e colocou de volta no lugar meu coração partido.

Ele nunca me falhou em todo esse processo. Seu amor foi mais que suficiente pra me ajudar em meio à dor. As cicatrizes ficaram, mas eu sou grata por elas. Elas me lembram que ser governada por meu próprio coração, deixando meus sentimentos tomarem conta da minha razão, apenas me traz feridas e dor. Eu aprendi a deixar a caneta da minha vida amorosa nas mãos que foram perfuradas por mim, e sabe, elas não me falharam.

Precisamos deixar a caneta de nossas vidas amorosas nas mãos que foram perfuradas por nós. Click To Tweet

Eventualmente eu encontrei o amor, e ele é muito mais real, cru e honesto do que eu jamais imaginei. E apesar de ser difícil, o amor que eu vivo hoje é muito mais maravilhoso do que eu achei possível experimentar.

Só que quando Jesus preencheu meus buracos Ele não me prometeu um amor humano. Não. Eu só O ouvia sussurrar, Querida e amada minha, Eu sou suficiente. Você confia? Confia que Eu sou tudo o que você precisa?

E eu creio. Ainda hoje creio. Aquele momento sozinha foi importantíssimo até pro meu casamento, pra me lembrar que não foi meu marido que preencheu meus buracos. E ele jamais poderá preencher qualquer vazio futuro.

Só Jesus me cura. Só Jesus me satisfaz. Desde aquela época, na solteirice, até hoje no casamento, e no futuro, seja lá o que quer que ele reserve.

Jesus é o verdadeiro amado da minha alma, cujo amor me permite frutificar não mais em minhas paixões vãs, mas no amor sacrificial dEle.

Ah, amiga minha, hoje eu posso te dizer – que grande privilégio é ser de Jesus! Se há alguma raiz em você hoje que Ele está amorosamente te mandando arrancar, não tema. Jesus vale toda a dor.