À minha amiga desesperada por afirmação

Querida amiga,

Com poucos meses de casada, meu marido percebeu um padrão em nosso relacionamento. Se ele fazia qualquer tipo de crítica, por mais simples que fosse, eu reagia como se ele tivesse “chutado meu cachorro”. Na maioria das vezes ele fazia a crítica de forma normal e pacífica, apenas expressando sua opinião contrária sobre algo que eu fiz ou escolhi. Mas, minha reação era tão desproporcional à crítica que ele ficava desencorajado de sequer compartilhar comigo o que pensava sobre as coisas.

Certo dia, em uma viagem de carro, ele se abriu comigo quanto a isso e perguntou porque minhas reações às críticas dele, ou de qualquer pessoa na verdade, eram tão fortes e intensas. Eu disse que não sabia, mas iria pensar sobre, afinal de contas eu não queria ser assim. Me machucar com qualquer opinião negativa contra mim é extremamente não-saudável e exaustivo.

Insegurança no passado, insegurança no presente

Olhei pela janela, e vendo as árvores, fazendas e campos passarem, me coloquei a pensar sobre esse padrão em minha vida. O Espírito começou a me lembrar de todos os anos escolares que tive. Um por um Ele foi colocando em minha mente, e fui recordando dos momentos doloridos, onde eu desesperadamente ansiava por afirmação.

Eu pude ver um padrão dessa necessidade de aprovação em cada fase da minha vida aparecendo de uma maneira. Na primeira série eu tinha muito medo de ser abandonada, e quando minha mãe demorava mais do que dez minutos para me buscar, eu já começava a ficar desesperada. A partir da terceira série, o medo do abandono virou necessidade de se encaixar, de ser como os outros, e na quinta série eu me encontrei desesperada em ver que todas as minhas amigas pareciam estar “ficando”, beijando os meninos no fundo da escola, e ninguém parecia ter o mesmo interesse por mim (louvado seja o Senhor pelos livramentos nessa época…). A sexta série foi o pior ano de todos – quando o bullying começou. Durante aquele ano todo eu me vi desesperada por afirmação da minha beleza, enquanto tudo o que eu recebia na escola eram palavras de julgamento e crítica. Na sétima série meus pais me mudaram de escola e ainda me lembro do sentimento apertado de ser “a menina nova”. Passei aquele ano todo ansiosamente suplicando por amigos. Eu me lembro de passar recreios sozinha dentro do banheiro, chorando e cansada de não me encaixar, de não ser suficiente. No ensino médio tudo mudou – de recebedora do bullying eu passei a praticá-lo. Eu me sentia muito mais confiante em minha beleza física, depois de ter superado os anos de “patinho feio”, e agora meu desespero era por ser melhor que os outros, e me ver afirmada por estar no grupinho popular da escola.

Enquanto o céu azul passava pela janela, as lágrimas começaram a escorrer quentes nas minhas bochechas. Eu passei grande parte da minha vida cristã lutando contra o orgulho, achando que ele era meu pecado mais proeminente, para agora ali, em meio àquela reflexão do passado, descobrir que eu sou muito mais insegura do que jamais imaginei.

Como muitas, talvez a maioria, das mulheres que eu conheço, eu passei minha vida toda ansiando por afirmação – querendo que alguém me mostrasse que eu era suficiente, que eu era amada, que era bom estar comigo.

Eu chorei ainda mais pesado ao perceber que esse padrão infelizmente não morreu nos meus anos de adolescência. Eu ainda me encontro sugando meus relacionamentos, ansiosamente querendo que eles preencham meu buraco, minha ansiedade, minha necessidade de ser boa o suficiente.

Tim Keller disse em uma pregação que a palavra “vanglória” significa estar vazio de glória. E é isso que todo ser humano carrega dentro de si: o saber, ainda que inconsciente, que somos vazios de glória; e por isso existe a busca, em todos os nossos relacionamentos, pelo preenchimento desse buraco. Acima de tudo nós sabemos que precisamos da afirmação não de humanos, mas de Deus, e ansiamos por isso com todo o nosso ser.

Como vencer essa necessidade?

Todos nós somos desesperados por afirmação, ainda que não reconheçamos isso. Nem todos nós passamos por um momento de auto-conhecimento, como eu tive naquele carro, mas todos nós vivemos a mesma realidade, ainda que não a reconheçamos.

Talvez sua necessidade de afirmação não se reflita como a minha. Talvez a sua se reflita na necessidade de tirar selfies sensuais e postá-las para receber likes. Na necessidade de ser convidada a todos os eventos sociais. Na necessidade de tirar boas notas. Na necessidade de ter um namorado.

Independentemente da forma como isso se revele em sua vida, só há uma maneira de preencher esse vazio em nós – no ouvir de Deus, “Muito bem, servo bom e fiel!”. É só no momento em que isso acontece que nós podemos finalmente abaixar nossas garras e parar de machucar as pessoas, não mais fortemente necessitando da aprovação delas, porque Deus nos disse “sim”. Nesse momento começamos a ser livres.

Enquanto eu chorava no carro, percebia que ainda que eu fosse cristã há anos e já tivesse depositado minha fé no sacrifício de Cristo por mim, eu ainda não vivia como alguém que havia recebido o “sim” de Deus, a aprovação total dEle. E por causa disso, eu ainda vivia na necessidade constante de que outras pessoas me dessem um “sim”. Eu queria ouvi-las dizer, “Sim, Francine, você é suficientemente amada, suficientemente bonita, querida, esperta, engraçada, etc etc”.

E aquilo estava vindo à superfície pela primeira vez com o casamento, onde eu cansava meu marido com minha total incapacidade de receber um “não” – “Não, essa escolha não foi boa; não, eu não gosto dessa blusa; não, esse não foi o melhor jantar de toda a minha vida…”. Não receber afirmação me quebrava profundamente, ainda que nas pequenas coisas.

Era como se aquele pequeno e bobo “não” à uma atitude ou gosto meus, fosse um profundo “não” a todo o meu ser, à minha identidade toda.

Minha glória na Cruz

Em Gálatas 6, Paulo nos diz, “Quanto a mim, que eu jamais me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio da qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo.” É aqui que encontramos a cura para a “vanglória”, a falta de glória, o buraco em nós que chora por afirmação: na cruz de Cristo. Minha glória está ali.

Keller, ainda na mesma mensagem mencionada anteriormente, disse que esse se gloriar do qual Paulo fala nesse verso vem das tradições de guerra da época. Os generais que lideravam as tropas iam à frente delas antes das batalhas e gritavam afirmações e encorajamentos. Aquilo era o se gloriar – declarar e gritar bem alto, “Nós temos o que é necessário para vencer!”. Portanto, quando Paulo nos manda nos gloriar na Cruz somente, ele está dizendo que nossa afirmação deve vir completamente do saber que nós somos maus (cf. Mat. 7:11), mas que por causa da Cruz, temos o que é necessário para vencer, para viver, para ser livres. Pela Cruz a Francine é suficiente aos olhos de Deus.

Na Cruz Jesus ouviu “aparte-se de mim maldito” de Deus para que, por causa da Cruz, nós ouvíssemos dEle “Muito bem, servo bom e fiel!”.

Agora eu vejo que críticas não precisam me quebrar, porque minha identidade está completa e finalmente firmada na Cruz do meu Senhor.

Críticas não precisam me quebrar, porque minha identidade está firmada na Cruz. Click To Tweet

Sabe, querida amiga, é fácil ouvir a voz do inimigo que nos diz que somos “menos que”, insuficientes, não-amadas. Mas, precisamos tapar nossos ouvidos a ele, e gritar de volta, quando ele quiser nos desencorajar, as verdades que o nosso amado Deus nos disse.

Eis o que tenho repetido para mim mesma, constantemente, e escrito nas paredes do meu coração:

– Por causa de Jesus, a Francine é amada. (Cf. Jr. 31:3)
– Por causa de Jesus, a Francine é suficiente (Cf. I Pe. 2:9)
– Por causa de Jesus, a Francine jamais será abandonada (Cf. Hb. 13:5)
– Por causa de Jesus, a Francine está livre das pressões da beleza física (Cf. Pv. 31:30)
– Por causa de Jesus, a Francine é completamente aceita (Cf. Ef. 1:4-6)
– Por causa de Jesus, a Francine recebeu todos os “sim” de Deus (Cf. 2 Co. 1:20)

Querida, o mesmo é real para você. Como mulheres, é tão fácil afundar no desespero e ansiar por afirmação. Mas precisamos assumir para nós a verdade de que somos queridas a Deus por causa de Cristo, e nEle somos suficientes.

Tatue essas verdades nas paredes do seu coração, e escreva também em post-its no espelho. Sempre que olhar seu rosto refletido ali, lembre-se que Jesus sangrou até a morte para que você (SIM, VOCÊ!) fosse perfeitamente suficiente aos olhos de Deus e pudesse finalmente ter o buraco de sua alma preenchido ao ouvir dEle, “Muito bem, serva boa e fiel!”.

Que vivamos à luz dessa quase inacreditável realidade.

Sua amiga,
Francine