A igreja não é um centro de palestras (Sobre passividade)

Sempre fui ativa na igreja. Por ter sido criada nos caminhos do Senhor pela minha mãe desde que nasci (ainda que minha conversão tenha sido depois, por volta dos 11 anos), sempre estive inserida no meio cristão e aprendi desde muito nova a trabalhar na igreja. Cantava com a equipe de música, participava do coral, participava dos grupos de jovens e diversas outras atividades.

Todas essas coisas eram as minhas ocupações na juventude, e me ajudavam, inclusive, a me afastar de compromissos que não me edificariam espiritualmente. Não havia tempo pra festinhas da escola ou da faculdade, porque aos sábados eu tinha ensaios. Não dava para “esticar” com os colegas após um dia longo, porque tinha ensaios do coral… e assim eu vivi boa parte de minha vida.

Apesar de sempre me divertir e de me ser muito cômodo ter uma longa listas de atividades na igreja, só há pouco tempo eu pude perceber a real importância de todo esse serviço. E quando isso aconteceu? Quando fui desafiada a servir no lugar que mais evitava e temia me colocar: no departamento infantil.

Eu já tinha certa experiência com crianças na minha antiga igreja. Era assistente de uma de minhas grandes amigas em uma classe de idades entre 9 e 12 anos. Crianças que já tinham formação bíblica de casa e que entendiam muito bem a mensagem que queríamos passar. Era muito tranquilo.

O problema, digamos assim, foi quando eu mudei de igreja. Já relatei para vocês em textos anteriores que sou membro de uma igreja nova há quase 2 anos e é ela está localizada relativamente longe da minha casa. Lembro-me como se fosse hoje do dia em que o Pastor nos apresentou – a mim e minha família – como membros oficiais. Lembro-me de uma jovem de lá, na época – hoje é uma amiga querida – me parando ao final do culto e dizendo “Seja oficialmente bem vinda, Carol! Agora vamos poder trabalhar juntas” e eu não fazia ideia do que ela queria dizer.

Afinal, eu morava longe e eu não tinha como ir a ensaios da equipe de música durante a noite, não tinha como me deslocar aos sábados, não havia possibilidade de atuar em nada daquilo em que eu estava acostumada a fazer. Na minha cabeça, se não dava para fazer essas coisas, então eu poderia simplesmente não fazer nada, como tantas outras pessoas que conheço, e apenas frequentar os cultos aos domingos.

E assim eu fiz, por muitos meses. Eu ia para igreja domingo pela manhã, assistia o culto (assistia mesmo, porque me via apenas como telespectadora e não fazia ideia de que ali, junto com meus irmãos, eu prestava culto, juntamente com quem estava lá à frente da congregação), assistia às aulas da Escola Bíblica, voltava para casa e repetia esse ciclo semanalmente.

Aos poucos, senti-me isolada. Sentia que não possuía intimidade genuína com meus irmãos e nem sabia nada sobre suas vidas. Não era fácil me sentir parte do corpo, se eu era uma parte sem função. Se eu era alguém que tratava o culto ao Senhor e a sua igreja como um centro de palestras e a fala do Pastor era apenas um refil para seguir com a semana.

Eu sabia que a falta de serviços era um dos motivos que me levava a ter esse sentimento, mas não havia nada que eu pudesse fazer naquele local. Nada que eu me interessava e que fosse possível de ser feito dentro das minhas limitações.

Mas será, queridas, que eu estava usando os critérios corretos? Será que eu tinha que buscar o que me interessava? Qual é o objetivo de tudo isso? Fazer o que gosto? Ter admiração? Ter um cargo sob holofotes?

Deus não nos chama para termos glória. Ele nos chama para servirmos e darmos a glória devida a Ele.

Durante esse período meio sem definição, a esposa de um dos presbíteros me convidou para ajudar no departamento infantil. Mas desta vez, diferentemente do que eu estava acostumada, começaria como auxiliar da classe de crianças entre 3 e 5 anos. Eu queria poder explicar para vocês o pânico que senti quando ela me fez esse convite. Eu não tinha jeito com crianças, tinha medo de choro, de birra, de lidar com elas em geral. Achava-me totalmente incapaz para o cargo… e então, eu disse sim. Não sei bem explicar o porquê. Não era o que eu queria, mas era o que os meus irmãos, a minha igreja estava precisando que eu fizesse naquele momento. Creio que o Senhor inclinou meu coração a isso. Glórias a Ele.

E, assim, foi nessa classe que eu entendi por que servimos na igreja.

“Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas. E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor.” (Efésios 4: 10-16, grifo meu)

Ah, minhas irmãs! Essas criancinhas que passei a ensinar são carentes do evangelho assim como nós e precisam saber qual o caminho que devem seguir. Precisam desde cedo aprender a amar o Senhor, Sua Palavra, Sua igreja.

Essas criancinhas que antes me deixavam ansiosa e insegura causam saudade em mim quando fico muito tempo longe, sem interagir com elas. Entendi que assim como nós, adultos, elas também necessitam aprender a seguir a verdade em amor, crescendo em Cristo.

Descobri, ainda que por meio de uma adaptação difícil, queridas, que todos nós precisamos uns dos outros e que inculcar Jesus Cristo naqueles pequenos era mais importante do que a comodidade que pela qual eu prezava. Era mais importante do que ter um domingo leve, tranquilo, apenas ouvindo.

Eu faço parte de algo maior. Você faz parte de algo maior. Nós não somos uma turma, uma galera, um grupo. Nós somos um corpo, com juntas, funções. Somos vivos juntos e precisamos nos nutrir segundo a justa cooperação de cada parte.

“Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo. Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito. Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. Se disser o pé: Porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa de ser do corpo. Se o ouvido disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; nem por isso deixa de o ser. Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde, o olfato? Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve. Se todos, porém, fossem um só membro, onde estaria o corpo? O certo é que há muitos membros, mas um só corpo. Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós. Pelo contrário, os membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários; e os que nos parecem menos dignos no corpo, a estes damos muito maior honra; também os que em nós não são decorosos revestimos de especial honra. Mas os nossos membros nobres não têm necessidade disso. Contudo, Deus coordenou o corpo, concedendo muito mais honra àquilo que menos tinha, para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros.” (1 Coríntios 12:12-25, grifo meu)

Descobri que posso cooperar em favor das criancinhas. Descobri que posso cuidar delas, ouvi-las, ensiná-las. Descobri que posso ser um ombro amigo para os seus pais, posso acompanhar o desenvolvimento delas, orar por elas. Descobri que servir na igreja é muito maior do que um cargo. É uma obrigação de amor, porque Jesus vem buscar o corpo, a igreja, e é um privilégio ajudar – um pouquinho que seja – a apresentar essa noiva ao seu Noivo no Grande Dia.

Como está a sua vida em comunidade, minha amiga? De que forma você tem se esforçado para nutrir os seus irmãos?

Por favor, não caia no engano de achar que o culto é uma palestra e que você não precisa fazer mais nada a não ser ouvir e cumprir essa pendência da sua lista semanal.

Por favor, não caia no engano de achar que o culto é uma palestra e que você não precisa fazer mais nada a não ser ouvir e cumprir essa pendência da sua lista semanal. Click To Tweet

Ainda que você esteja em um momento da sua vida em que ache que está muito ocupada, ou que não tem talento para fazer nada na igreja local, entenda que tudo o que fazemos é tão somente pela graça do Senhor. Ore, espere, observe. Não se trata de uma competição para ver quem realiza mais obras, ou tampouco de uma vida de acomodação. Trata-se do Senhor, da Sua glória. Trata-se da criação vivendo para o seu Criador da forma mais plena possível.

Somos aceitas pelo Pai por causa de Cristo, e não por obras. Jamais podemos nos esquecer disso e cair numa vida pesada de legalismo. Façamos tudo para a glória de Deus (cf. 1 Co 10:31), por amor aos nossos irmãos e a Cristo. As obras são o resultado, e nunca o meio.

É desafiador, é assustador, é trabalhoso, mas é para o Rei. E tudo feito para Sua glória valerá sempre a pena e jamais será em vão.

Se você tiver alguma dificuldade nessa área, deixe nos comentários. Oraremos por você. Eu não me arrependi de ter dito sim ao serviço. Com certeza, você também não se arrependerá.