A janela

Quando ouvi uma mensagem sobre o jovem Êutico (Atos 20: 7-12) me identifiquei muito com ele. Fui criada dentro da igreja, ouvindo maravilhosas mensagens de pastores abençoados pelo dom do ensino, professores de escola dominicais excelentes, líderes de jovens que eram exemplo de fé e caminho com DEUS.

Mas eu queria sempre sentar perto da janela. O mundo lá fora era mais interessante, mais atraente.

Lembro-me de ir para a igreja no domingo à noite e ficar olhando toda hora para a saída para ver se meus amigos descrentes já estavam na porta, me esperando para ir comer algo quando o culto acabasse. Eu estava sentada na janela.

Na passagem de Atos narrada por Lucas vemos que o apóstolo Paulo estava pregando no terceiro andar do cenáculo na cidade de Trôade. Não bastasse o jovem Êutico estar na janela, ele estava na janela do terceiro andar! Perigo real. Era isso também que eu senti. Perigo! Eu sabia que aquele lugar na janela do terceiro andar que eu insistia em ficar, era perigoso. Aquele lugar da janela do terceiro andar me mostrava que o que passava além das paredes da igreja era perigoso! Mas eu parecia não me importar com o perigo. Eu estava todo domingo na igreja; reuniões de oração; ensaios do coral de jovens; reunião aos sábados. Mas a janela parecia me mostrar algo bem mais interessante que tudo isso: festas, músicas, conversas. Interessante, atraente e perigoso.

Eu conhecia o perigo do terceiro andar. Por sabê-lo, e mesmo assim eu o escolher, eu não tinha esperança nenhuma. E eu sentia que DEUS, que eu acreditava estar servindo até aquele momento da minha vida, vivia longe lá no céu, nem se importava comigo, menina criada na igreja que prefere a janela do terceiro andar ao lado de dentro do cenáculo.

Mais tarde, em outro ponto da minha vida, eu sabia que tudo o que eu olhava pela janela não agradava a DEUS e que nem adiantava eu, em vez de olhar pela janela, olhar para dentro do cenáculo. Já era tarde demais. Reconhecendo-o como o DEUS onipotente e onipresente de quem eu tanto ouvia falar, eu tinha conhecimento de que Ele já sabia que eram as coisas da janela que me interessavam e que estavam em primeiro lugar na minha vida.

Entretanto, nunca tive dúvidas da minha salvação. Em um intercâmbio de jovens eu tinha realmente me arrependido dos meus pecados e reconhecido a Cristo como único e suficiente Salvador. Mas e partir dali? E então? A dúvida de como eu deveria prosseguir era imensa.

Foi aí que eu ouvi a história de outro jovem: o jovem rico (Mateus 19: 16-26). Entendi que deveria largar tudo o que eu tinha e seguir a Jesus. Mas, assim como o jovem rico, eu não queria isso. Largar todas as minhas riquezas reunidas até agora? Amizades, hábitos, paqueras. Essas eram minhas riquezas naquela época e eu não poderia largar aquilo para seguir Jesus. De jeito nenhum!

Muito tempo depois de eu renunciar a valorosa proposta de seguir a Jesus, ali eu estava! Mais uma vez dentro da igreja. Agora que a janela já não me satisfazia mais, eu procurava ficar sempre longe dela. Já não era mais jovem e, portanto os prazeres daquela janela não podiam mais atender meus desejos. Foi em um culto de Natal, ouvindo uma preciosa canção que entendi que Cristo não estava onde eu achava que estava; longe, distante. Eu vi que Ele era meu amigo. Estava lado a lado comigo. Não estava longe, lá no céu. Agora eu sabia que Ele se importava comigo.

Eu estava pronta para descer da janela e receber sua graça, sentir o seu amor. Tudo fazia sentido agora! Só o que eu queria naquele momento era agradar Aquele que me ama e me chama de filha. Estava tudo claro. Livros e mensagens não me eram o bastante para tentar aprender o que eu devia fazer para agradar e servir como Ele merece ser servido.

Foi lendo e aprendendo da Palavra que então vi o quão pecadora eu sou, não merecedora de tal amor. Mas agora eu entendia que havia alguém com quem eu podia contar e os versículos em Mateus 7: 13-14 (“Entrai pela porta estreita, (…) e poucos há que a encontrem.”) me fizeram ver que existe uma janela espaçosa, fácil de passar, e um outro lado da janela, onde é estreito, e que poucos querem olhar para ele.

Mas do lado estreito da janela tem um Amigo que não te abandonará. O prazer do lado estreito da janela é bem maior, bem mais pacífico, bem mais recompensador do que o lado largo da janela.

O prazer do lado estreito da janela é bem maior, bem mais pacífico, bem mais recompensador do que o lado largo da janela. Click To Tweet

Decidi então escolher o meu lado da janela. O lado estreito e apertado, que me leva à vida. Disse não ao perigo de cair do terceiro andar. Agora minha atenção está posta do lado de dentro da janela, o lado onde meu verdadeiro Amigo está. Sei que não é o bastante. Entendo que a graça não me livra de me arrepender e sempre servir com vontade de aprender e colocar Seus ensinamentos em prática, e quero fazer isso.

Porque aquela outra janela continua aberta, mas o que ela mostra do lado de fora, do lado mais largo, já não me atrai mais.