Toda a Escritura é inspirada por Deus | Graça em Flor

Maravilhas do Pentateuco: o que eu aprendi em Números

Se Jesus não achou que conseguiria lidar com a vida sem saber as Escrituras todas, o que faz você pensar que consegue? —Tim Keller (tradução minha)

No começo do ano eu quis começar uma leitura bíblica que me garantisse que eu leria a Bíblia toda até o final do ano. Achei uma que é cronológica (você lê conforme as passagens foram escritas e não na ordem que estão na Bíblia) e estou seguindo e gostando bastante… Exceto que, como quase todos os outros planos de leitura bíblica, esse começa com o Pentateuco.

Se você é um pouquinho como eu, seus ombros dão uma encolhida quando pensa no Pentateuco, em especial em Levítico, Números e Deuteronômio. Parece que esses livros não passam de genealogias intermináveis, medições e leis que não se aplicam a nós. Preciso confessar que, seguindo esse plano de leitura, eu li Levítico bem assim – quase que engolindo as palavras e torcendo pra que acabasse logo.

Mas, quando chegou em Números, eu pensei: ou eu me arrasto por ele, e essas próximas semanas serão uma tristeza, ou eu me posiciono ao lado de Paulo, crendo que “toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino” (cf. II Tm. 3:16, grifos meus) , e tomo uma atitude diferente.

Afinal de contas, engolir e desprezar um livro inspirado diretamente por DEUS é seríssimo.

Na época de faculdade e de pós-graduação eu tive que ler bastante, tendo feito cursos da área de Humanas. E eu sempre gostei de rabiscar as laterais dos textos e fazer anotações e grifos enquanto lia. Então aí estava: eu iria tratar Números com toda seriedade e solenidade que ele merece, por ser um livro inspirado por Deus, mas tentando ver se a prática de rabiscar, grifar e fazer anotações, até sobre fatos que parecessem irrelevantes, poderia me ajudar a aprender melhor. E funcionou! Hoje compartilho com vocês as maravilhas que descobri quando peguei minha “pá” e “cavei fundo” em Números, na esperança de te inspirar a fazer o mesmo e descobrir, por si mesma, os tesouros da Palavra.

 

Números nos ajuda a evitar o pecado

Eu li, certa vez, que o motivo pelo qual ainda ensinamos nas escolas momentos tenebrosos da história humana, como o Holocausto, é para que as próximas gerações nunca se esqueçam do que passou, de forma a evitar que os mesmos erros sejam cometidos por elas no futuro.

Em sua primeira carta aos Coríntios, Paulo traz as passagens de Números como advertência aos irmãos daquela igreja, assim como nós fazemos nas escolas hoje, de forma a relembrá-los de tudo que o povo de Israel tinha passado para que eles fossem alertados a evitar de cair nos mesmos erros que os israelitas caíram.

Paulo fez menção de erros como a cobiça, a idolatria, a imoralidade, a murmuração e o pôr Deus a prova, e afirmou que Essas coisas aconteceram a eles como exemplos e foram escritas como advertência para nós (…) Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia! (1 Coríntios 10:11,12, grifo meu)

Portanto o estudo de Números nos traz à memória os erros de Israel que, sendo povo eleito e amado de Deus, caiu vez após vez em pecado, de forma que possamos evitar o caminho que eles tomaram.

 

Números aponta para a Cruz

Números nos aponta, repetidamente, a necessidade que o pecado e impureza tinham de purificação. No capítulo 5 vemos que as pessoas imundas (leprosos, pessoas com fluxo, pessoas que haviam tocado em algum morto) deveriam ser lançadas para fora do acampamento. A santidade de Deus não suporta a nojeira do pecado.

Isso significa que Deus odeia as pessoas com lepra, por exemplo? Afinal de contas, a lepra era uma doença e o fluxo era algo natural da biologia humana. Nós vemos a resposta para isso nos Evangelhos, que relatam de Jesus curando leprosos e a mulher com fluxo de sangue, achegando-se a eles quando todos os outros os rejeitavam.

Deus ama as pessoas que o buscam em humildade. Mas, Ele odeia a sujeira que elas trazem em seu interior – o pecado, o qual o fluxo de sangue e a lepra representam.

O que Deus está, de fato, ensinando, é que Ele é Santo e exige santidade, mas que Ele sabe que a verdadeira pureza só poderia vir dEle mesmo, por isso Jesus teve que vir e morrer para nos limpar, de uma vez por todas, da sujeira do pecado.

Números nos dá, então, uma bela introdução ao Evangelho e ao sacrifício de Jesus. Ao vermos a dureza da Lei introduzida através de Moisés, nós podemos ser ainda mais gratos pela Graça de Deus, introduzida por Jesus. Nosso Senhor nos livra da culpa e condenação que a Lei trazia, pois cumpriu a Lei toda por nós, na Cruz, sendo o Cordeiro perfeito que encerrou a necessidade daqueles infindáveis rituais apresentados em Números.

Números nos dá uma bela introdução ao Evangelho e ao sacrifício de Jesus. Click To Tweet

A Cruz também é vista no capítulo 21, quando Deus enviou serpentes no meio do povo, por causa da rebelião deles. Quando Moisés pediu por misericórdia, o Senhor mandou que ele levantasse uma serpente de bronze no meio do deserto, para que todo aquele que olhasse para ela fosse salvo. Ah, que preciosa imagem da Cruz de Cristo — glória a Deus que todo o que olha para ela é salvo!

 

Números mostra que devo lembrar de Deus, nas alegrias e nas tristezas

No capítulo 10, Deus comanda a Moisés que faça 2 trombetas de prata para dois propósitos: convocar a congregação, e dar ordem para levantar o acampamento e partir. Dependendo da forma como essas trombetas eram tocadas, diferentes significados surgiam: determinada tribo sairia quando fossem tocadas duas vezes, e outras quando os sons fossem curtos e fortes.

Mas, foram os versículos 9 e 10 desse capítulo que me trouxeram grande lição:

Quando em sua terra vocês entrarem em guerra contra um adversário que os esteja oprimindo, toquem as cornetas; e o Senhor, o Deus de vocês se lembrará de vocês e os libertará dos seus inimigos. Também em seus dias festivos, nas festas fixas e no primeiro dia de cada mês, vocês deverão tocar as cornetas por ocasião dos seus holocaustos e das suas ofertas de comunhão, e elas serão um memorial em favor de vocês perante o seu Deus. Eu sou o Senhor, o Deus de vocês”.

Israel deveria clamar ao Senhor em tempos de guerra, e Ele os ajudaria. E deveria lembrar-se do Senhor em momentos de festa, pois Ele era o Deus deles.

Números me ensina que não posso pender somente para um lado: é errado somente clamar por socorro do Senhor nas minhas guerras, mas me esquecer dEle nas alegrias. Da mesma forma, não posso louvar ao Senhor nos momentos de festa e querer me afastar dEle, com raiva e ressentimento, quando Ele me faz passar pelo fogo.

É preciso estar em humildade diante dEle em ambos os momentos. Kari Jobe diz isso muito bem em sua música “Love Came Down”, “Se as tempestades da vida vierem (…) eu me lembrarei de tudo o que fizeste, e da vida que eu tenho por causa de Seu Filho. (…) E quando meu coração estiver cheio de esperança, (…) e eu sentir Tuas mãos de graça sobre mim, ainda assim continuarei desesperado por Ti, Deus, permanecerei humilde aos Teu pés” (tradução livre minha).

 

Números ensina que a vontade de Deus é melhor do que a minha

Quando lemos o Pentateuco vemos que o povo de Israel, repetidas vezes, murmurou contra o Senhor. Pense você: esse povo passou anos e anos sendo escravo de um líder tirano, levando chibatadas diariamente, e Deus os livrou disso, guiando-os de perto, mostrando todo dia que eles eram o povo eleito que Ele quis amar. E mesmo assim esse povo tinha a ousadia de dizer “era melhor ter ficado no Egito e morrido lá!”

Eu não quero ser como eles, mas eu sei que sou. E isso me entristece, porque me vejo nas falas dos israelitas.

Quando eles tiveram fome no meio do deserto, Deus enviou o maná, uma espécie de pão doce, que literalmente caia do céu no colo deles, todos os dias! Mas, eles não estavam satisfeitos. Eles falaram “nos era melhor comer da carne, e cebola, e alho, e pepinos e melões do Egito do que esse pão doce que o Senhor nos dá! Já estamos cheios desse pão!” (cf. Nm. 11:5)

Por causa dessa afronta e incapacidade de serem satisfeitos na vontade de Deus para eles, os israelitas sofreram: o Senhor encheu-se de fúria por causa da ingratidão do povo e disse: “Agora o Senhor lhes dará carne, e vocês a comerão. Vocês não comerão carne apenas um dia, ou dois, ou cinco, ou dez ou vinte, mas um mês inteiro, até que lhes saia carne pelo nariz e vocês tenham nojo dela, porque rejeitaram o Senhor, que está no meio de vocês, e se queixaram a ele, dizendo: ‘Por que saímos do Egito?’” (c. 11:18-20).

Eu consigo até imaginar o povo todo feliz porque sua vontade tinha sido cumprida. Na primeira semana. Mas depois de um mês inteiro comendo aquela carne até que ela “saia pelo nariz”, eu imagino que eles se arrependeram de não se submeter à vontade de Deus que era perfeita e, literalmente, doce.

Eu quero me submeter à vontade de Deus sem precisar passar por esse momento de “quebrar a cara”, para só depois dar valor aos planos dEle.

 

Enfim, eu aprendi muitas outras coisas em Números, que guardo para compartilhar em outra ocasião… Há tantas maravilhas no Pentateuco!

Quando decidi de fato olhar para esse livro como inspirado por Deus e útil para minha vida, percebi que existe muita verdade em cada página, eu só precisava deixar meu orgulho e arrogância de lado, e me deixar ver isso.

Oro para que vocês também possam se humilhar perante o Senhor e reconhecer que TODA a Sua Palavra é útil e merece ser estudada com afinco e dedicação. Que Ele nos ajude!

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Você já leu o livro de Números? Quais lições pode dizer que aprendeu com ele? Conta para mim nos comentários! E conta também qual o livro da Bíblia que você acha mais difícil de ler com afinco e dedicação.

Em Cristo,
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